O governo Bolsonaro faz lembrar a história daquele general franquista, Millán-Astray, que invadiu a Universidade de Salamanca na abertura do ano letivo de 1936 aos berros “Abaixo a inteligência! Viva a morte!”.

(Texto de Fernando Garcia, lido ontem, durante homenagem aos 40 anos da editora, entregue a Cláudio Gonzalez, ambos na foto)

“Boa noite, a todas e a todos. Gostaria de saudar a mesa: Deputada Federal Érica Malunguinho do PSOL, ex-Ministro Fernando Haddad do PT, Governador do Maranhão Flávio Dino do PCdoB, Ivana Jinkings, editora da Boitempo. Reitora da PUC-SP Prof.ª Maria Amália, que nos honra mais uma vez com seu esforço de realização nesta edição do Salão do Livro Político.

Há 40 anos, durante os estertores da ditadura militar e ascensão dos movimentos de massas, greves operárias e mobilizações estudantis, nascia uma editora que homenageia uma mulher de grande vigor combativo, símbolo da luta pela independência, pela soberania nacional; há 40 anos nascia a Editora Anita Garibaldi.

De início marcou a resistência ao autoritarismo e enalteceu as greves com o jornal Tribuna da Luta Operária. Logo depois lançaria a revista Princípios que, até hoje, com mais de 150 edições e por volta de 800 articulistas, integra o acervo da esquerda brasileira.

Na Editora Anita Garibaldi, nunca faltaram disposição e coragem para o bom embate de ideias. Em seu catálogo de livros temas como a ditadura militar, a violência no campo, a crise teórica do marxismo, filosofia política e formação social do Brasil se fizeram presentes em edições bem avaliadas. Com o mesmo afinco editou centenas de documentos do movimento comunista – sobretudo do Partido Comunista do Brasil, o PCdoB –, além de clássicos da tradição marxista, romances e poesias.

Iluminando as sendas da batalha em curso, avultam publicações sobre a necessidade de um novo projeto nacional de desenvolvimento, de defesa da nação e da democracia.

As ideias que a Editora Anita Garibaldi dissemina não seriam possíveis não fossem os homens e mulheres que as produziram. Ao longo destes 40 anos, as centenas de autores é expressão da vocação tão radical quanto ampla da Editora.

Obras de Marx, Engels, Lenin, passando por Máximo Gorky, Mayakovsky, ao lado de Domenico Losurdo, Clóvis Moura, Dario Canale, Astrojildo Pereira, Octávio Brandão, Vladimir Mayakovsky, Maria Prestes, Gianni Frezu e tantos outros dirigentes e intelectuais que escreveram para a melhor compreensão do Brasil e do mundo, muitas vezes, ainda durante o calor da luta.

Em grande parte desses 40 anos a Editora Anita Garibaldi teve como seu principal condutor um homem que chegou com larga experiência em “agitação e propaganda”. Este companheiro valoroso é Divo Ghisoni que, desde a ditadura militar, conseguiu manter a Anita de portas abertas e editando livros e revistas, às vezes, nas mais difíceis condições de crise econômica e perseguição política, chegando a ser preso, em 1983, por conta de uma publicação que tratava da Guerrilha do Araguaia. O querido camarada Divo nos legou uma editora e uma importante experiência no ramo da luta de ideias. (O Divo não pôde estar aqui, mas pode sentir-se homenageado também!)

Hoje o mercado editorial passa por profunda crise. Os tentáculos do imperialismo querem ditar, inclusive o que pode ser lido e o que pode ser pensado. As pequenas editoras e livrarias vão sucumbindo a uma crise da civilização capitalista, que também se manifesta na vida comercial dos livros. O novo governo invoca as diversas fogueiras de livros que embalaram os momentos mais obscuros, os momentos mais sinistros do século 20.

O governo Bolsonaro faz lembrar a história daquele general franquista, Millán-Astray, que invadiu a Universidade de Salamanca na abertura do ano letivo de 1936 aos berros “Abaixo a inteligência! Viva a morte!”.

Este governo de caráter autoritário na política, ultraliberal na economia, retrógrado nos costumes, com forte viés neocolonialista e de culto à ignorância é hoje o maior inimigo, não só das editoras aqui presentes, mas de amplas parcelas do povo brasileiro. A resistência não começa e nem termina no livros, mas necessariamente passa pelos livros. É dessa resistência que trata o Salão do Livro Político, nas suas cinco edições.

Essa resistência é feita de mulheres e homens, leitores e autores, combatentes em todas as frentes, e passa pela existência daqueles que editam e propagam o pensamento avançado, capaz de fazer frente ao avanço da reação e do pensamento obscurantista. E temos na Editora Anita Garibaldi, que nasceu na luta contra a ditadura e enfrentou o neoliberalismo, a plena confiança de manter seu estandarte de pé, publicando a fina flor do pensamento avançado, democrático, progressista, que forjará o fim desse momento sombrio e o nascer de um novo Brasil!

Longa vida à Editora Anita Garibaldi!

Agora chamo o Cláudio Gonzalez, atual condutor desta editora, para receber esta humilde placa de homenagem que a 5ª Edição do Salão do Livro Político concede à Editora Anita Garibaldi pelas suas quatro décadas de livros e ideias.”

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