Alípio Casali, doutor em Educação e professor titular do Departamento de Fundamentos da Educação da PUC-SP, que media a mesa “Educação ou barbárie: a volta à Idade Média?”, faz uma breve avaliação das ações do governo Bolsonaro na área. E deixa claro que estas refletem a irracionalidade que o caracteriza em todos os demais campos. 

Por Celia Demarchi

Sobre a Educação, especificamente, ele sintetiza: “É claro que é uma calamidade”. E diz que é até difícil criticar pontos específicos porque as manifestações de “atraso” estão em toda parte, enfatizando: “Atraso é o termo mais contundente. Não se pode falar em conservadorismo ou reacionarismo, que sugerem alguma inteligência, capacidade de argumentação, ideias articuladas para retomar planos do passado. Esse grupo que está no governo, até agora, demonstrou capacidade zero de pensamento e de gestão”.

Ele vai ao ponto: “Olavo de Carvalho, considerado “ideólogo” do bolsonarismo, se comunica todo o tempo de modo fragmentado, selecionando frases de efeito, sem qualquer linha de argumentação. “O governo tem feito o mesmo. No campo político não existe um centro de pensamento, e sim mera repetição de frases ecoadas, que se resumem em bordões como o ‘contra tudo o que está aí’, muito repetido durante a campanha eleitoral”.

O sucesso desse “método”, para Casali, provém do manejo intuitivo da linguagem que funciona dentro da sua bolha de apoiadores. Esta inflou, pois determinado segmento da população passou a participar da política ao se identificar primariamente com esses bordões, que revitalizam resíduos de representação de elites do passado: senhores de escravos. “Essa elite de hoje é a mesma que resistiu à abolição da escravatura dizendo que a abolição levaria o país ao ‘caos’… .”

O professor explica que o setor da classe média que apoia Bolsonaro se caracteriza por se guiar por intuições difusas, emoções, especialmente o medo. Não há pensamento. Este é o atraso, esta é a origem da barbárie. Por isso, o governo recorre tanto a termos e metáforas de forte apelo emocional, como “tsunami”, “guerra” e aponta o “grande inimigo” a ser combatido, o “marxismo cultural”. “Desse ponto de vista, essa política é pré-liberal e seu autoritarismo nos remete, sim, a barbáries da Idade Média”, completa o professor Casali.

Com o financiamento de um setor da elite econômica com interesses na pauta do governo, essa propaganda alcança de algum modo a periferia, influenciando também as pessoas mais simples, sem informação, que não tiveram acesso a boas escolas e são também muito movidas a sentimentos e emoções, na avaliação de Casali. “Só que esses segmentos sociais são politicamente voláteis e mudam de posição rapidamente quando não colhem resultados concretos”.

Nesse cenário, o único foco de alguma inteligência do governo, diz o professor, está basicamente no Ministério da Economia, com a relativa competência técnica de Paulo Guedes, cuja proposta, do ponto de vista econômico, fica de pé, embora seja um desastre do ponto de vista social. “Existe aí algum pensamento liberal, ultra-liberal”. Mas, pontua Casali, eles próprios [governo] estão detonando a única pauta que poderia trazer certa legitimação para o governo, a reforma de previdência, que é de algum modo necessária – mas não como proposta por Guedes. “É uma completa irracionalidade”.

 

 

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