Entrevista: Ricardo Antunes

Por Celia Demarchi

Duas perguntas ao professor de Sociologia o Trabalho da Unicamp, que está lançando O privilégio da servidão (Boitempo), sobre a atualidade do filósofo alemão no ano do seu bicentenário

P – Que ecos de Marx se pode verificar hoje, aos 200 anos de seu nascimento?

RA – O momento é muito particular para demonstrar a atualidade do filósofo, normalmente taxado como autor do século 19, ou 20, a título de provocação. Talvez seja o autor do século 21 porque nenhum outro desvendou com tal profundidade as crises estruturais do capitalismo. E hoje estamos no meio de uma delas.

P – Quais são as características particulares da atual crise que se pode relacionar à teoria marxista?

RA – Há quatro. Primeira: devastou parte monumental da população trabalhadora, que não encontra emprego em escala global. Segunda: aprofundou também de forma monumental a destruição da natureza e o retrato mais próximo que temos disso é a tragédia em Mariana, que arruinou o Rio Doce, a população ribeirinha e quase todo o estado de Minas Gerais. Terceira: vivemos num mundo onde a opressão e a “fascistização” se ampliam em escala global, o que se expressa no preconceito de raça, de gênero, na xenofobia… Quarta: o quadro profundamente regressivo torna a uma terceira guerra mundial algo iminente. A agressão de Israel aos palestinos, a relação hora mais tensa, hora menos tensa entre Estados Unidos e Coreia do Norte são fatos que podem gerar motivos importantes para uma terceira guerra, da qual não sobraria ninguém. Estes pontos – desemprego estrutural, destruição da natureza, opressão, conflitos entre países –  nunca estiveram longe das reflexões de Marx. Ao contrário, foram questões vitais para o autor já no século 19. Dizer que Marx está morto é má fé ou pura ignorância dos que querem destruir o mundo.

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